15 dezembro, 2005

um axioma..

que não tem uma essência que o defina.. mas às vezes tem gosto de guarda-chuva pela manhã.. é só o que eu sei..
talvez seja simples.. talvez mais simples que sartre e noel rosa..

"uma verdade necessária mas de impossível demostração.. diz o houaiss sobre o axioma

14 dezembro, 2005

"e dissimulada.. e com olhos de ressaca.. continua a sorrir;

o preço..

as memórias estão numa caixa.. conclui ela. 67 anos e papéis amarelados.. essa é a minha vida agora.. que jeito mais besta de viver.. viver esperando seu papel desfazer.. acende um cigarro e segue arrastando seu corpo pendente e roliço pra janela.. olha a rua lá de cima.. um dia quis morar na vila madá.. riso torto entre as veias que lhe correm o rosto.. ehh vila madá.. bons tempos aqueles.. credo já to até pensando como velha.. pesado isso de se saber.... velha. Tinha tirado todos aqueles espelhos da casa.. não suportava o peso do tempo naquela pele branca de brancura suave e plácida.. com umas marcas de tanto cigarro.. fumava só nas butecadas! se orgulhava ela.. e só biscoito fino.. ahá!.. e.. fui feliz. Escolhas, cara.. escolhi cada centímetro disso daqui e.... olho.. olho.. e não vejo nada........ se arrastou denovo, denovo pendente.. olhou o quarto.. a cama arrumada, terminada.. a vida arrumada, terminada.. olhou pras suas coisas.. perfume.. batom.. e pó. Pó do tempo, pó de memórias.. olhou a caixa.. fitou-a por uns instantes.. instantes? tinha-os todos agora.. podia fazer o que quisesse, pensou.. mas não podia... mal conseguia abrir a caixa.. mal aguentava os velhos espelhos pequenos que manteve em poucos cantos só pra não levantar suspeitas.. mas suspeitas de quê.. pra quem... ninguém mais ia ali e essa frase lhe doía a boca.. seca... sozinha.. ela mesma esquecida numa caixa... era a caixa que lhe sustentava.. era nela que estava presa.. prêsa.... presa de si.. prêsa do mundo. abriu a caixa.. o coração meio mole, meio de outros, quase não mais dela.. se não lhe batesse no peito..... conteve-se. olhou o teto.. eu tinha estrelas no teto... daquelas bem pequenas.. as grandes não tem graça e.. deitou. lembrou que sabia achar duas constelações: uma no inverno, uma no verão.. e que isso lhe rendera histórias.. meu fantástico mundo... o que se projeta de futuro quando o passado é só o que dá pra ver ao se abrir os olhos?.. futuro.. besteira de existencialista.. levantou a cabeça com ar de resoluta! pára com isso, pára de se lamentar véia.. você tem amigos.. talvez netos.. esse vazio é normal.. o Franklin falava disso.. mas.... a caixa. Olhou-a, era meio torta que nem ela mesma.. pegou-lhe.. pegou o que de si tinha nela.. sorriu... uma fraude!.. e tornou a fechá-la. E esse vazio no peito e na boca...... vendi o peito pra comprar as passagens. Balbuciou meio irônica..
Abriu a porta e foi.

13 dezembro, 2005

achados e perdidos.. I

misturando bumba cumbica pandeiro e solidão no mais alto nível.. eu e zé pretinho, biscoito fino!..

Não sei porquê tenho que ter essas oscilações.. é estranho pensar que esse buraco de sensações todas confusas pode ser fruto de.. hormônios.. Hormônios, cara! um treco microscópico e besta.. É como se alguém quisesse me convencer que minhas preocupações, meus anseios, meus mais fundos sei-lá-o-quê fossem.. hormônios.
E essa dor de cabeça que passa a me acompanhar e que eu teimo em não notar.. e esse vazio no peito e na boca.. e esse pensamento num olhar, num cafuné que durou o instante exato de uma despedida.. A docilidade e sensibilidade que eu mesma tratei de lhe atribuir.. meu fantástico mundo..

"felicidade, pensei.. felicidade que não se compra..

o que seria da humanidade sem o sonho? Sonho, mas não aquele que dizem que se deveria ter à noite.. e lembrar-se pela manhã. Os sonhos mas os de olho aberto preenchem esse vazio incorrigível que se teima em trazer dentro. Basta uma brechinha e zás! eis-me completamente entregue, totalmente livre no espaço, afoita em viver uma coisa qualquer.. tudo aquilo que a realidade vem depois buscar à força..

minialogus reiterantis

oi
oi..
tudo bem?
tudo..
to triste..
por que..?
porque num te liguei
pois é..
mas quero ligar e..
num precisa explicar
me beija?

..
por que a gente se vê tão pouco?
não sei..
então até qualquer dia..
posso aparecer de vez em quando?
a gente se vê..
tchau.. um beijão
tchau amor..

07 dezembro, 2005

poesias em guardanapos de boteco..

você ia se orgulhar de mim! ia sim.. ia me olhar e dizer meu deus, como você cresceu! ia apertar meu rosto e me fazer elogios.. ia dizer que sua vida não seria a mesma sem a minha.. ia ler minhas palavras frouxas e rir um riso bom daqueles.. ia me ouvir falar sem parada e se orgulhar da politiquinha metida a besta que me tornei.. idealista e doce, ia dizer.. hoje senti seu cheiro à distância e decidi deixar você ir..

06 dezembro, 2005

maria mafé.. ou ressuscitando mortos.

Não. Não fiz tão errado assim. Precisava saber o que eu era, afinal.. qual era meu verdadeiro rosto? Tinha eu um desses? O que eu queria era me ver a mim mesma e não o espelho. Queria buscar um fundo, um algo sob a penumbra que me conferisse o valor de Um – tá, uma no caso, uma singular. Queria me dizer que eu sou um Eu! Um pedaço de eu que não podia deixar de sê-lo sem me virar em outro.
Fui, fui e corri. Corri muito. Cansei. Parei. Caminhei, fui indo meio sem saber como, atrás de um ser, de uma parada com a minha cara.. esperando pra dar de topo comigo mesma em algum lugar. Precisava ir e ir sozinha atrás do meu rosto. E fui.
Você, ora.. você era feito só de ficar, me olhando correr feito um sei-lá-o-quê desgovernado. Sem Governo algum. Sem ter de dar explicação pra nada. Nem pra você. Foi assim que segui por tantos cantos e fazeres “nunca dandes navegados..” eu descobrindo a pura poesia de viver sem parada..
E sabe o que descobri? Não você não sabe, não dá pra ouvir daí de tão longe - e o som ta bem alto agora - talvez nem lhe valha a pena dizer.. Mas eu devia te contar do quê eu te privei.. te privei.. privei de um furacão, daqueles que deixam as casas mas levam as pessoas pra longe.. o rosto não muda, mas ele não importa tanto.. (aliás, estruturas vazias estruturam? mm.. )
Foi um furacão. Foi dar de cara com.. bem.. como dizê-lo, foi dar de topo com.. nada. Foi saber que não se tem uma coisa maior do que aquilo que se faz. A gente se faz, sabia? É mais ou menos como o jazz, uma base mais ou menos simples, feita de educação e biscoitos, e o resto é improvisação. E aí é que tá a arte! A graça de tudo é que se começa do mais.. nada. Nada de massa cinzenta e dura, nada de centro... o centro está em toda parte.. li isso em algum lugar.. Agora vem o choro.. não o meu, não esta noite.. mas um choro irmão, uma lágrima.. irmã. E tudo se põe a rodar. Você na minha cabeça, meu corpo e sua pele, minha vida e a falta da sua...

Escolhas.. às vezes o dia dói e minha calma sangra.